O lazer mora cada vez mais perto de nossas casas e apartamentos
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Por: Bruno Uchôa 26/05/2012
Condomínios estão criando espaços de lazer e se parecendo com
clubes, atraindo compradores devido à comodidade e segurança de suas
instalações internas
Espaços de lazer em condomínios existem há décadas, mas se
limitavam a um playground, uma quadra, piscina e salão de festas. Nos
últimos anos, as construtoras passaram a investir pesado na elaboração
de condomínios que podem ser considerados praticamente clubes. De acordo
com o estudo Panorama no Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro, do
Sindicato da Habitação (Secovi Rio), 90% dos lançamentos em 2011,
incluíram algum tipo de área de lazer. Atrelada a essa tendência está
uma outra configuração dos imóveis lançados, que agora possuem metragem
menor, independentemente da quantidade de quartos. Nos recentes
lançamentos imobiliários em Niterói, é possível encontrar unidades de
quatro quartos com cerca de 117 metros quadrados.
De acordo com especialistas do setor imobiliário, a intenção das
empresas é compensar a menor metragem com uma área de lazer ampla.
Segundo o estudo do Secovi-Rio, 25,9% os empreendimentos construídos no
Rio de Janeiro, em 2011, têm brinquedoteca; 35,3% já vêm com espaço
gourmet e 57,6% dos novos lançamentos foram construídos com espaço
fitness ou academia.
“A área de lazer vira uma extensão do apartamento. Então, a pessoa
não tem um quarto de brinquedo, mas o prédio tem uma brinquedoteca,
entre outros espaços. Isso só foi viabilizado também devido a uma queda
dos preços dos equipamentos. Hoje é possível montar uma academia por R$
15 mil, por exemplo”, explica Rafael Motta Duarte, sócio-diretor da
Percepttiva, especialista em marketing e inteligência imobiliária.
Outra característica desses novos lançamentos é quantidade maior de
unidades. O diretor-superintendente da Brasil Brokers, em Niterói, Bruno
Serpa Pinto, afirma que a manutenção de amplas áreas de lazer
construídas é possível a partir da diluição dos custos pelos moradores.
“Uma infraestrutura completa de lazer e equipamentos de alta
qualidade seja para academia, piscina ou spa se torna viável pois o
preço é rateado entre os moradores. E isso acaba sendo uma economia e
não um gasto extra, porque se fossem pagar uma academia ou mesmo um
clube gastariam muito mais do que o preço diluído na taxa condominial”,
explica Serpa Pinto.
Uma das construtoras que investe forte na tendência é a Pinto de
Almeida, criando uma linha de empreendimentos com área de lazer
completa, número maior de unidades a preços mais atrativos. A empresa
está construindo os Portais de Pendotiba, Itaipu e do Sol. E em breve
lançará um novo empreendimento com a mesma configuração.
O Portal do Sol, lançado no início deste ano, terá 152 unidades de
até 57 metros quadrados com dois quartos, sendo uma suíte. O
empreendimento será erguido na Estrada Caetano Monteiro, em Pendotiba,
com ampla área de lazer com piscinas, churrasqueira, salão de festas,
sala de fitness e de repouso, sauna úmida, espaço teen e brinquedoteca.
De acordo com o diretor da Pinto de Almeida, Naum Ryfer, o perfil da
família brasileira, com menos filhos, contribui para a procura maior de
imóveis de dois quartos. Ele também diz que, as questões de mobilidade
urbana e segurança são decisivas.
“A questão da segurança é uma das mais importantes na escolha de
condomínios. Especificamente, os condomínios-clubes atraem
principalmente as famílias que desejam morar em um lugar onde os filhos
possam se divertir em segurança”, destaca Ryfer.
Uma das empresas que embarcou na tendência é a Efer, que está
lançando o Pride Residences, o primeiro empreendimento residencial da
empresa em Niterói. O condomínio será construído na Rua Dom Bosco, no
Jardim Icaraí, e vai oferecer 100 unidades, todas de dois quartos, entre
77 e 92 metros quadrados, além de lazer com piscina, brinquedoteca,
fitness, espaço gourmet, salão de jogos e spa, contando com segurança 24
horas. Os apartamentos têm preços a partir de R$ 440 mil.
“Os últimos lançamentos em Niterói com imóveis tiveram todas as
unidades de dois quartos vendidas rapidamente. Em contrapartida, muitos
apartamentos de três quartos ficaram encalhados”, constata o
sócio-diretor da Efer, Carlos Eduardo Penna.
Valorização
A construção de unidades com metragem menor em empreendimentos com
maior número de apartamentos e área de lazer completa é resultado da
elevação dos preços para a construção civil aliada à valorização
imobiliária. De acordo com o diretor presidente da Lopes Imobiliária,
Luis Carlos Oliveira, a tendência de imóveis menores está diretamente
ligada à crescente valorização do metro quadrado nos últimos anos.
Apenas em 2011, em Niterói, os imóveis se valorizaram 21,5%.
“Os imóveis têm se valorizado todos os anos, mas a renda das famílias
não acompanha, embora também tenha aumentado. Então para ter um valor
que caiba no bolso do consumidor, as construtoras diminuem o tamanho e
priorizam a área de lazer”, explica Oliveira.
Para Marcelo Latini, diretor da Incorporadora Latini Bertoletti,
outro fator que contribuiu para essa tendência foram os custos para a
construção civil, que se elevaram e pressionaram os preços dos imóveis. O
Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) encerrou 2011 com alta de 7,58%, semelhante ao registrado
em 2010, quando fechou em 7,56%, patamares acima da inflação oficial
usada pelo governo, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), que fechou 2011 em 6,55% e 2010 em 5,79%.
“Essa forte valorização dos imóveis foi influenciada também pelos
custos para a construção civil que subiram bem acima da inflação nos
últimos anos e as empresas tiveram que repassar esse custo para o
consumidor”, afirma Latini.
De acordo com o diretor da Latini Bertoletti, a solução das empresas
para não elevar demais os preços dos imóveis foi construir apartamentos
com metragem menor para diluir o custo da construção pelo número de
unidades maior e também construir áreas de lazer completas para
compensar os imóveis mais apertados.
“As construtoras ficaram com medo de o valor dos imóveis ultrapassar a
capacidade de pagamento de seus clientes, por isso, adotaram essa
configuração. Mas o sucesso também só foi possível devido a uma política
de facilitação do crédito com financiamentos com prazos maiores de
pagamento”, argumenta ele.
Pay per use
Além de lazer, a preocupação das construtoras está se voltando para o
setor de serviços. Com a vida cada vez mais corrida e pouco tempo para
as tarefas diárias, oferecer comodidade pode se tornar um diferencial.
Segundo Carlos Eduardo Penna, o Pride Residences será erguido com o
conceito de levar os serviços de um apart-hotel para um empreendimento
residencial.
“Já contratamos uma empresa de administração e vamos construir o
prédio de forma que os moradores tenham a opção pelos serviços de
arrumação e limpeza, manutenção e reparos e coleta para lavanderia”,
conta Penna.
Segundo o diretor da Efer, os serviços serão implantados no sistema
de pay per use. Ou seja, o morador não é obrigado a contratar a empresa e
pagará apenas pelo que usar.